Resenha da obra de Roggero, Rosemary (org.). Caixa de Pandora
Práticas Sociais de Ges-tão Educacional e de Gestão Escolar em Tempos de Pandemia. 1. ed. São Paulo: BT Acadêmi-ca, 2022. 345 p
DOI :
https://doi.org/10.5585/cpg.v22n2.25077Mots-clés :
ResenhaRésumé
A obra em análise é o quarto volume de uma série de estudos sobre gestão educacional, desenvolvidos por pesquisadores em formação no Mestrado Profissional em Gestão e Práticas Educacionais (PROGEPE) da Universidade Nove de Julho. Focaliza as práticas de gestão escolar e educacional na pandemia de Covid-19, explorando a interação entre educadores e comunidades, bem como os desafios enfrentados pelos gestores escolares diante das restrições e sob as diretrizes das autoridades educacionais e de saúde.
Os autores-pesquisadores em formação coletaram dados em instituições de ensino básico, buscando analisar práticas sociais subjacentes com apoio de contribuições teóricas críticas de autores de campos como história, filosofia, sociologia e gestão educacional. Os onze capítulos do livro abordam variados tópicos, desde a realidade educacional brasileira até análises internas de escolas, com a participação ativa das professoras orientadoras durante o processo de pesquisa e de escrita.
O primeiro capítulo discute desafios e transformações da educação durante a pandemia de Covid-19, enfocando disparidades sociais e exclusão digital. Evidenciam-se as dificuldades nas relações entre instituições escolares e gestão educacional, ressaltando como a retórica democrática frequentemente se reduz à formalidade. A descontinuidade das políticas educacionais, resultante da alternância de gestões, emerge como problema recorrente nas redes públicas, prejudicando a coerência das ações pedagógicas. O artigo finaliza advogando por novas soluções, investimento na resistência, diálogo e esperança ativa, bem como reconhecimento das lideranças necessárias para construir uma sociedade efetivamente democrática.
No segundo capítulo, aborda-se a elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPP) em escolas de Educação Infantil durante a pandemia. A participação da gestão escolar, educadores e comunidade na criação do PPP é destacada, considerando o contexto social e cultural. A importância de acolher perspectivas variadas, incentivando o diálogo diante das mudanças resultantes da crise sanitária, é ressaltada. Reconhece-se que a educação infantil enfrentou limitações de recursos para educadores e famílias, dada a relevância do contato físico e de elementos na promoção do desenvolvimento integral de bebês e crianças pequenas, especialmente nas linguagens.
Investiga-se, no terceiro capítulo, a destinação e uso efetivo dos recursos financeiros às escolas durante a pandemia. Dados revelam distribuição desigual dos recursos, ressaltando a importância do financiamento educacional e gestão democrática para combater desigualdades no âmbito educacional brasileiro.
Já o quarto capítulo aborda desafios enfrentados por escolas e professores na transição para o ensino remoto, destacando falta de preparo tecnológico, escassez de materiais e resistência docente. Gestores escolares, fonte dos dados por meio de entrevistas semiestruturadas, relatam dificuldades na orientação das equipes e administração de formação e recursos tecnológicos limitados.
Prosseguindo, o quinto capítulo aborda as dificuldades de comunicação entre escolas investigadas e famílias na pandemia. Famílias têm papel crucial na mediação do ensino-aprendizagem, um desafio notável em famílias de baixa renda com limitações tecnológicas. Escolas se adaptaram, buscando meios eficazes de comunicação e oferecendo suporte, inclusive com materiais concretos para aprendizado.
No sexto capítulo, discute-se o impacto do distanciamento social nos laços entre escola e família na educação infantil durante a pandemia. Sublinha-se a importância da gestão escolar na construção de confiança e relacionamentos na comunidade escolar, assim como na implementação e acompanhamento de protocolos de saúde. Sendo um estudo de caso na região metropolitana de São Paulo, destaca-se a autonomia das escolas nas decisões, respeitando as orientações sanitárias.
O capítulo sete analisa a adaptação de escolas municipais de Santo André aos protocolos sanitários durante a pandemia. Analisam-se as práticas de gestão, evidenciando estratégias como aplicativos de mensagens e atividades lúdicas virtuais para manter o vínculo entre alunos e instituições de ensino.
O oitavo capítulo examina a comunicação escolar durante a pandemia, destacando a relevância do diálogo na construção de relações democráticas. Explora a comunicação dialógica nas escolas, visando a promoção de relações democráticas em momentos de crise, ressaltando sua fundamentação no diálogo e interação social. Duas escolas investigadas adotaram abordagens distintas para manter ambiente de comunicação equilibrado, apesar de desafios de invasões em plataformas virtuais.
No nono capítulo, aborda-se a implementação do ensino remoto e desafios enfrentados pela gestão escolar na comunicação com estudantes, famílias e equipe. Professores buscaram formação tecnológica para lidar com diferentes contextos de aprendizagem. As equipes gestoras enfatizaram a colaboração docente, alinhamento com objetivos delineados pelo PPP e estratégias pedagógicas eficazes. Aponta-se os limites das práticas e a preocupação com os problemas de aprendizagem e também emocionais no pós pandemia.
O foco no décimo capítulo direciona-se à identidade dos gestores escolares de educação infantil na pandemia. Explora-se o comprometimento desses profissionais, enfatizando gestão democrática, identidade profissional e desafios inerentes à administração em regime de teletrabalho. Os gestores lidaram com inexperiência, indecisões e pressões emocionais e organizacionais, destacando dualidade como líderes com vulnerabilidades.
Analisa-se, no último capítulo, a adoção de recursos tecnológicos pelos Centros de Educação Infantil (CEIs) em São Paulo durante a pandemia. Enfatiza-se a mudança no atendimento a bebês e crianças de 0 a 3 anos e suas famílias, por meio de canais digitais após implementação da Secretaria Municipal de Educação. Pondera-se a importância da qualidade das relações e da presença física para o desenvolvimento humano pleno, ressaltando necessidade de políticas públicas estruturadas para a universalização da educação infantil.
Em síntese, a obra em tela foca no cenário escolar durante a pandemia, evidenciando a transformação da escola diante de desigualdades sociais e educacionais exacerbadas pela crise e pela distribuição ineficiente de recursos digitais, ora por problemas de distribuição, ora de instalação, ora de alcance da internet em determinadas regiões da cidade, ora pelos poucos equipamentos das famílias, insuficientes para atender aos estudantes. As escolas enfrentaram problemas diversos do ponto de vista da gestão educacional, mas também da gestão e das práticas escolares, no atendimento às famílias e comunidades, sobretudo as mais vulneráveis, num período em que a crise sanitária acirrou problemas decorrentes de desemprego e violência doméstica, entre outros.
A coleta de dados no ambiente escolar concreto enriquece a análise das práticas institucionais. A obra é valiosa para a compreensão e aprimoramento da gestão educacional e escolar no contexto contemporâneo, estendendo-se para além dos contornos da pandemia, buscando observar como os problemas sociais são alcançados pelas políticas públicas e pelas práticas sociais, no âmbito das escolas e suas comunidades.
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