Sem dor, sem ganho! Reflexões sobre o sacrifício percebido de consumo a partir da prática fitness

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/remark.v19i2.17775

Palavras-chave:

Sacrifício Percebido, Estilo de Consumo Fitness, Corpo, Dor.

Resumo

Objetivo: este artigo analisa o sacrifício percebido pelo consumidor que adota o estilo de vida fitness, propondo reflexões sobre dor, abdicação e esforço.

Método: o trabalho é um ensaio teórico, posicionado na abordagem do Sacrifício Percebido do Consumidor, sintetizando o conhecimento, posicionando-se quanto a ele, sendo um recurso para se pensar a realidade. 

Resultados: a argumentação instituída no ensaio aponta que o sacrifício percebido no estilo de vida do consumidor fitness é estabelecido a partir da ação abdicatória de um desejo, visando ao alcance de um objetivo compensatório, envolvendo uma esfera penosa e outra conchegativa. Neste cenário, a dor é apresentada tanto como elemento penoso para o alcance do belo corpo, da bela aparência e da aceitabilidade, quanto como constituinte da esfera conchegativa, sendo vista como um benefício em si, ao reforçar o discurso ‘no pain, no gain’. Aliás, a relação indivíduo versus corpo, neste estilo, representa uma antítese estabelecida entre amor-próprio e o ódio pela forma do corpo, exigindo práticas de manutenção e modificação constantes na estrutura física do indivíduo e na sua percepção sobre ela. Os riscos e custos envolvidos geram sensações de perda, especialmente do corpo habitual, englobando a esfera penosa do indivíduo que abdica de uma ação, visando alcançar um objetivo recompensador que gera transformações e reconstitui as sensações positivas, dentre elas, o prazer. 

Contribuições teóricas: a composição da percepção sacrificial retratada no ensaio se diferencia do conceito de sacrifício percebido até então, proposto na literatura, especialmente por meio dos elementos de ação abdicadora de um desejo, bem como da instituição de duas esferas presentes na percepção de sacrifício, observando as particularidades do contexto analisado, que destacam a importância da dor no processo de perceber sacrifício no fitness. 

Originalidade/relevância: o estudo revela que o objetivo ritualista desse sacrifício busca objetivos mais prosaicos que não estejam ligados às práticas das experiências místicas, mas à conquista do mercado das aparências, por meio de uma boa performance física e, especialmente, visual dos consumidores ávidos por atuarem em seus próprios corpos, purificando-os, continuamente, pela dor.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marianny Jessica de Brito Silva, UFPE

Doutoranda em Administração pela UFPE, atuando na linha "Gestão Organizacional", no campo temático "Marketing e Comportamento do Consumidor - MCC". Professora Substituta na UFPE, Campus do Agreste. Participante do grupo de pesquisa ConsuMeering - Engenharia do Consumidor da UFPE. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco, atuando na linha de pesquisa "Marketing, Empreendedorismo e Tecnologia da Informação". Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco. Atua na área de Marketing, principalmente nos seguintes temas: comportamento do consumidor, consumo colaborativo, sacrifício no consumo, grupos de referência, consumo de moda, consumo sagrado e profano e relação entre consumo e gênero.

Salomão Alencar de Farias, UFPE

Professor Associado da UFPE na área de Marketing. Foi coordenador do PROPAD (04/2006 - 05/2008 e 04/2016-02/2018). Atual membro Coordenador do Comitê de área (Administração e Contabilidade) no CNPq, Membro Externo do Comitê para o Brasil do Escritório de Iniciativas Internacionais da GSU, Atlanta (2015-presente). Foi membro do Comitê Cientifico de Marketing do ENANPAD. Foi editor Chefe da BAR Brazilian Administration Review (04/2015-04/2018). Doutor em Administração (FEA/USP, 1998), Mestre em Administração (UFPB, 1991) e Bacharel em Administração (UECE, 1987).

Referências

Albinsson, P. A., Perera, P. Y., & Shows, G. D. (2016). Pursuing fitness: how dialectic goal striving and intersubjectivity influence consumer outcomes. Consumption Markets & Culture, 1-24.

AMA, American Marketing Association. (2018). Dictionary. Disponível em: < https://www.ama.org/resources/Pages/Dictionary.aspx >. Acesso em: 03 nov. 2018.

Badje, D. (2005). To possess and to be possessed: the sacred facet of gift giving. European Advances in Consumer Research, 7, 176-181.

Bagozzi, R., & Dholakia, U. (1999). Goal Setting and Goal Striving in Consumer Behavior. Journal of Marketing, 63, p. 19-32.

Bataille, G. (1988). Theory of Religion. New York: Zone.

Beldona, S., & Kher, H. V. (2014). The Impact of Customer Sacrifice and Attachment Styles on Perceived Hospitality. Cornell Hospitality Quarterly, 56(4), 355-368.

Belk, R., & Coon, G. S. (1993). Gift Giving as Agapic Love: An Alternative to the Exchange Paradigm Based on Dating Experiences. Journal of Consumer Research, 20(3), 393-417.

Belk, R. W., Ger, G, & Askegaard, S. (2003). The Fire of Desire: A Multisited Inquiry into Consumer Passion. Journal of Consumer Research, 30(3), 326–351.

Bisma, N., Abbas, T., Abrar, M., & Iqbal, A. (2017). Impact of television advertisement on unhealthy weight control behaviors and eating disorders: Mediating role of body image. Pakistan Administrative Review, 1(1), 42-60.

Brei, V. A. (2007). Da Necessidade ao Desejo de Consumo: uma análise da ação do marketing sobre a água potável. Tese de doutorado. Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doctorat HEC da École des Hautes Études Commerciales.

Bubbio, D. G. (2013). Kant’s sacrificial turns. Int J Philos Relig, 73(2), 97-115.

Costa, J. F. (2004). O vestígio e a aura: Corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond.

Cronin, J. J. Jr., Brady, M. K., & Hult, T. M. (2000). Assessing the effects of quality, value, and customer satisfaction on consumer behavioral intentions in service environments. Journal of Retailing, 76(2), 193-218.

Crossley, N. (2005). Mapping Reflexive Body Techniques: On Body Modification and Maintenace. Body & Society, 11(1), 1-35.

Dodds, W. B., & Monroe, K. B. (1985). The Effect of Brand and Price Information on Subjective Product Evaluations. NA Advances in Consumer Research, 12, 85-90.

Dodds, W. B., Monroe, K. B., & Grewal, D. (1991). Effects of price, brand, and store information on buyers' product evaluations. Journal of marketing research, 28(3), 307-319.

Edey, P. & Knight, J. (2018). Profiling the entitled consumer when individualism and collectivism are codominant. Journal of Retailing and Consumer Services, 42 98–106.

Englis, B. G. & Solomon, M. R. (1995). To Be and Not to Be: Lifestyle Imagery, Reference Groups, and "The Clustering of America". Journal of Advertising, 24(1), 13-28.

Evans-Pritchard, E. E. (1956). Nuer religion. Oxford: Clarendon Press.

Featherstone, M. (2010). Body, Image and Affect in Consumer Culture. Body & Society, 16(1), 193-221.

Featherstone, M. (1982). The Body in Consumer Culture. Theory, Culture & Society, 1(18), 18-33.

Firth, R. (1963). Offering and Sacrifice: Problems of Organization. The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 93(1), 12–24.

Gao, H., Zhang, Y., & Mittal, V. (2015). Consumers’ Local-Global Identity and Price Sensitivity: The Role of Sacrifice Mindset. In: AP - Asia-Pacific Advances in Consumer Research, 11 (eds. Echo Wen Wan and Meng Zhang), Duluth, MN: Association for Consumer Research, 302-303.

Goellner, S. V. (2008). Deporte y Cultura Fitness: La Generización de Los Cuerpos Contemporáneos. Revista Digital Universitaria, 9(7), 3 – 11.

Gonzalez, A.M. & Bello, L. (2002). The construct 'lifestyle' in market segmentation: the behaviour of tourist consumers. Eur. J. Mark, 36(1/2), 51–85.

IHRSA, International Health, Racquet & Sportsclub Association. (2017). Relatório Global IHRSA 201 mil academias 83,1 bilhões de dólares 162 milhões de clientes Fitness cresce no mundo e Brasil ainda sofre com a crise econômica. Revista ACAD Brasil, 10-21.

Koch, E., & Sauerbronn, J. (2018). To love beer above all things: An analysis of Brazilian craft beer subculture of consumption. Journal of Food Products Marketing, 1-25.

Kovacs, M., & Farias, S. A. Dimensões de riscos percebidos nas compras pela internet. RAE-eletrônica, 3(2), 1-18.

Kumar, V., & Reinartz, W. (2016). Creating Enduring Customer Value. Journal of Marketing: AMA/MSI, 80, Special Issue, 36-68.

Lapierre, J. (2000). Customer-perceived value in industrial contexts. Journal of Business & Industrial Marketing, 15(2/3), 122-145.

Le Breton, D. (2007). A sociologia do corpo. 2. ed. Petrópolis: Vozes.

Le Meur, O., Le Callet, P., Barba, D., Thoreau, D., & François, E. (2004). From low level perception to high level perception, a coherent approach for visual attention modeling. In: proc. SPIE Human Vision and Electronic Imaging, San Jose, CA.

Matear, M. A. (2014). The Role and Nature of Willingness to Sacrifice in Marketing Relationships. Thesis, Kingston – Ontario - Canadá: Queen’s University.

Mello, M. T., Boscolo, R. A., & Esteves, A. M.; Tufik, S. (2005). O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Revista. Bras. Med. Esporte, 11(3), 203-207.

Meneghetti, F. K. (2011). Tréplica - o que é um ensaio-teórico? Tréplica à professora Kazue Saito Monteiro de Barros e ao professor Carlos Osmar Bertero. Revista de Administração Contemporânea -RAC, 15(2), 343-348.

Miller, D. (1998). A theory of shopping. Cambridge, UK: Polity Press.

Monroe, K.B. (1990). Pricing: Making Profitable Decisions. New York: McGraw-Hill.

Murphy, P. E., & Enis, B. M. (1986). Classifying Products Strategically. Journal of Marketing, 50(3), 24-42.

Poorthuis, M., Schwartz, J., & Turner, Y. (2016). Review article work on sacrifice. Journal of the Royal Anthropological Institute, 22(2), 412–414.

Powers, D. & Greenwell; D. M. (2016). Branded fitness: Exercise and promotional culture. Journal of Consumer Culture, 1–19.

Ramp, W. (2008). Transcendence, Liminality and Excess: Durkheim and Bataille on the Margins of ‘Sociologie Religieuse’. Journal of Classical Sociology, 8(2), 208-232.

Ravald, A., & Gronroos, C. (1996). The value concept and relationship marketing. European Journal of Marketing, 30(2), 19–30.

Sassatelli, R. (2010). Fitness Culture: Gyms and the Commercialisation of Discipline and Fun. New York, NY: Palgrave Macmillan.

Sassatelli, R. (1999). Interaction Order and Beyond: A Field Analysis of Body Culture Within Fitness Gyms. Body & Society, 5(2-3), 227-248.

Scott, R., Cayla, J., & Cova, B. (2017). Selling Pain to the Saturated Self. Journal of Consumer Research, 44(1), 22–43.

Severiano, M. F. V., Rêgo, M. O., & Montefusco, E. V. R. (2010). O corpo idealizado de consumo: paradoxos da hipermodernidade. Revista Mal-estar e Subjetividade, 10(1), 137-165.

Sherry, J. F., & Kozinets, R. V. (2007). Sacred iconography in secular space: alters, alters, and alterity at the Burning Man Project. In: Otnes, C., & Lowrey, T. M. Contemporary consumption rituals. New Jersey: Taylor & Francis, 291-313.

Shilling, C & Mellor, P. A. (2013). Making things sacred: re-theorizing the nature and function of sacrifice in modernity. Journal of Classical Sociology, 13(3), 319-337.

Sibilia, P. (2004). O pavor da carne: riscos da pureza e do sacrifício no corpo-imagem contemporâneo. Revista FAMECOS, 11(25), 68-84.

Silva, A. L. (2012). Imperativos da Beleza: Corpo Feminino, Cultura Fitness e a Nova Eugenia. Cad. Cedes, 32(87), 211-222.

Simmel, G. (1990). The Philosophy of Money. London: Routledge.

Sueitti, M. A., & Sueitti, A. P. (2015). A Corpolatria e os Transtornos da Imagem Corporal: Uma Realidade que Exige Atenção e Cuidado. Protestantismo em Revista, 37, 102-111.

Stewart, P. J., & Strathern, A. J. (1999). The Ritual Body and The Dynamics of Ritual Power. Journal of Ritual Studies, 4(2), 299-313.

Sweeney, J. C., & Soutar, G. N. (2001). Consumer perceived value: The development of a multiple item scale. Journal of Retailing, 77(2), 203-220.

Teas, R. K., & Agarwal, S. (2000). The effects of extrinsic product cues on consumers’ perceptions of quality, sacrifice, and value. Journal of the Academy of marketing Science, 28(2), 278-290.

Thompson, C., & Hirschman, E. (1995). Understanding the Socialized Body: A Poststructuralist Analysis of Consumers' SelfConceptions, Body Images, and Self-Care Practices. Journal of Consumer Research, 22(2), 139-153.

Turner, B. S. (1982). The Discourse of Diet. Theory, Culture and Society, 1(1), 23-32.

Valetim, P. P., Falcão, R. P. Q., & Campos R. D. (2017). O corpo nos estudos de consumo: Uma revisão bibliográfica sobre o tema. Consumer Behavior Review, 1(Special Edition), 32-48.

Vyncke, P. (2002). Lifestyle Segmentation: From Attitudes, Interests and Opinions, to Values, Aesthetic Styles, Life Visions and Media Preferences. European Journal of Communication, 17(4), 445-463.

Wang, Y., Po Lo, H., Chi, R, & Yang, Y. (2004). An integrated framework for customer value and customer-relationship management performance: A customer-based perspective from China. Managing Service Quality, 14(2/3), 169-182.

Wedow, R., Masters, R., Mollborn, S., Schnabel, L., & Boardman, J. (2017). Body size reference norms and subjective weight status: A gender and life course approach. Social Forces, 96(3), 1377-1409.

Williams, J., Ashill, N., & Thirkell, P. (2016). How is value perceived by children? Journal of Business Research, 1- 11.

Zeithaml, V. A. (1988). Consumer perceptions of price, quality, and value: a means-end model and synthesis of evidence. Journal of Marketing, 52(3), 2-22.

Downloads

Publicado

29.07.2020

Como Citar

Silva, M. J. de B., & Farias, S. A. de. (2020). Sem dor, sem ganho! Reflexões sobre o sacrifício percebido de consumo a partir da prática fitness. ReMark - Revista Brasileira De Marketing, 19(2), 388–405. https://doi.org/10.5585/remark.v19i2.17775

Edição

Seção

Artigos