Editorial

mudanças climáticas e planejamento urbano: cenários e desafios

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5585/2023.25704

Palavras-chave:

Mudanças Climáticas, Planejamento urbano, cidades

Resumo

Segundo o 6º Relatório (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2021, é inequívoco que as emissões de gases com efeito estufa produzidas por atividades humanas são a causa do aquecimento global e, se não forem drasticamente reduzidas nos próximos anos, os eventos climáticos extremos aumentarão em intensidade e frequência a cada incremento adicional da temperatura.

Para manter o aquecimento global abaixo do limite máximo de 2ºC, estima-se que os países de todo o mundo devam triplicar as metas de corte de emissões assumidas em suas NDCs - Contribuições Nacionalmente Determinadas, e quintuplicar os esforços para atingir o objetivo de 1,5ºC pactuado pelo Acordo de Paris.

Em um planeta cada vez mais urbano, é nas cidades que os efeitos adversos das mudanças do clima são e serão vividos pela maior parte da população. Os eventos climáticos extremos, cada vez mais intensos e mais frequentes, afetarão sobretudo os grupos sociais mais vulneráveis, agravando as iniquidades socioespaciais urbanas.

Nesse sentido, o IPCC tem destacado a importância do planejamento urbano para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas. As cidades consomem dois terços de toda a energia produzida no planeta e respondem por mais de setenta por cento das emissões de gases com efeito estufa. Assim, têm um papel fundamental a desempenhar tanto na redução de emissões quanto na preparação para o enfrentamento dos efeitos adversos das mudanças do clima e na prevenção de desastres climáticos.

No âmbito da mitigação, o planejamento urbano pode contribuir para a  redução das emissões de gases de efeito estufa por meio de medidas como: densificação urbana, que promove o uso mais eficiente do solo e dos recursos; fomento ao transporte público e à mobilidade ativa,  que diminui a emissão de poluentes e promove a saúde; transição energética justa, que substitui os combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia, com equidade e acessibilidade para todos; e preservação de áreas verdes, que contribuem para o conforto ambiental e o sequestro de carbono.

No âmbito da adaptação, o planejamento urbano pode preparar cidades para os impactos climáticos por meio de medidas como: redução da impermeabilização do solo, que reduz o risco de enchentes e inundações; construção de infraestruturas resilientes, como diques e sistemas de alerta precoce, para prevenção de desastres; soluções baseadas na natureza, para proteção da arborização urbana e dos corpos hídricos; preservação das praias, restingas, manguezais e estuários, para prevenção da erosão costeira e controle dos efeitos adversos da elevação do nível do mar. .

O planejamento urbano para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas certamente enfrenta desafios, como a falta de recursos financeiros e resistência de setores da sociedade. No entanto, não há dúvida de que o planejamento urbano é uma ferramenta essencial para enfrentar a emergência climática. As cidades que investirem em planejamento urbano para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas estarão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do futuro.

Neste contexto, esta edição especial da Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade visa promover o debate sobre como estratégias, técnicas e instrumentos de planejamento territorial e urbano podem dar suporte à estruturação e implementação de ações climáticas em âmbito local, de modo a habilitar as cidades a ampliar sua capacidade adaptativa, construir resiliência e acelerar seus esforços de descarbonização no horizonte temporal de 2050.

Assim, nos oito artigos publicados nesta edição especial, pesquisadores, profissionais e gestores públicos compartilharam suas experiências e conhecimentos sobre como o planejamento urbano pode contribuir para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas no país.

O primeiro estudo apresentado desenvolve o conceito de vulnerabilidade urbana e discorre sobre medidas de adaptação climática urbana para redução de riscos hidrometereológicos. O segundo artigo selecionado apresenta a classificação da vulnerabilidade socioambiental (VSA) do Município de Brusque (SC) aos desastres socioambientais, com enfoque especificamente nos movimentos de massa.

O terceiro estudo publicado disponibiliza de maneira sistematizada os resultados das pesquisas sobre as mudanças climáticas entre 2005 e 2022 e o impacto da elevação do nível do mar nas áreas urbanas da orla nordeste e leste de Santa Catarina. O quarto artigo selecionado propõe possíveis medidas de adaptação para amenizar os impactos físicos e econômicos das mudanças do clima sobre a cidade de Salvador com foco no setor de turismo.

O quinto artigo publicado discorre sobre as possíveis consequências do crescimento urbano sobre o território rural no contexto das mudanças climáticas. O sexto estudo, por sua vez, discute como a História Ambiental pode contribuir para a análise do clima em âmbito local, com foco no Vale do Itajaí, região sul do Brasil.

O sétimo artigo selecionado debruça-se sobre a promoção da mobilidade urbana ativa como estratégia de redução das emissões de gases de efeito de estufa nas cidades, questionando se morar em uma casa cercada por árvores pode estimular a caminhada no contexto brasileiro.  E o último artigo publicado propõe soluções de ventilação natural para promoção do conforto térmico de residências.

Espera-se, por fim, que os artigos publicados nesta edição especial possam contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas de planejamento urbano mais eficazes para enfrentar o desafio das mudanças climáticas no país.

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Biografia do Autor

Tatiana Tucunduva Philippi Cortese, Universidade Nove de Julho (Uninove) / São Paulo (SP)

Pesquisadora do Centro de Síntese USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados ? USP. Pós Doutora em Cidades Globais pela USP. Doutora em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestre em Saúde Pública pela USP. Especialista em Direito Ambiental pela Faculdade de Direito e Faculdade de Saúde Pública da USP. Graduada em Direito. Professora da UNINOVE do Mestrado Acadêmico em Cidades Inteligentes e Sustentáveis - PPGCIS. Professora de ESG e Direito Ambiental da FGVLAW. Autora dos livros Cidades Inteligentes e Sustentáveis e Mudanças Climáticas: do global ao local. Atividades de extensão universitária com mais de 340.000 visualizações via YouTube e Central do Aluno da Uninove. Pesquisa nas áreas de Cidades resilientes e sustentáveis; Cidades Inteligentes; Planejamento Urbano e Regional; Direito Ambiental; Mudanças Climáticas. Researcher at the Institute of Advanced Studies - Global Cities Program. Post doctorate in Global Cities. PhD in Sciences from the Faculty of Public Health of University of São Paulo. Master in Public Health from USP. Specialist in Environmental Law from the Faculty of Law and Faculty of Public Health of USP. Graduated in Law from UniFMU. Professor of UNINOVE of the Graduate Program in Smart and Sustainable Cities - PPGCIS. Professor of ESG and Environmental Law at FGVLAW. Author of the books Smart and Sustainable Cities; and Climate Change: from global to local. University extension activities with more than 340,000 views via YouTube and Uninove Student Central. Research in the areas of Resilient and Sustainable Cities; Smart cities; Urban and Regional Planning; Environmental Law; Sustainability Management, Climate Change. 

Débora Sotto, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo

Procuradora do Município de São Paulo. Professora-investigadora no Colégio Latino-Americano de Estudos Mundiais da FLACSO-Brasil. Pesquisadora Colaboradora do Centro de Síntese USP Cidades Globais do IEA/USP. Doutora em Direito Urbanístico pela PUC de São Paulo. Mestre em Direito do Estado - Direito Tributário PUC de São Paulo. Mestre Profissional em Direito Internacional do Meio Ambiente pela Universidade de Limoges. Graduação em Direito pela USP.

Juarês José Aumond, Fundação Universidade Regional de Blumenau

Docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, na Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB (SC). Doutor em Engenharia Civil pela UFSC. Mestre em Aproveitamento e Conservação de Recursos Naturais pela UFSC. Graduação em Graduado em geologia pela UFRGS.

Publicado

19.12.2023

Como Citar

Tucunduva Philippi Cortese, T., Sotto, D., & Aumond, J. J. (2023). Editorial: mudanças climáticas e planejamento urbano: cenários e desafios. Revista De Gestão Ambiental E Sustentabilidade, 12(2), e25704. https://doi.org/10.5585/2023.25704