Inquietudes, mobilizações sociais e desafios permanentes

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5585/cpg.v22n1.24664

Resumen

O primeiro semestre de 2023 se desenvolveu de forma vertiginosa, trazendo desde o seu primeiro instante não apenas a expectativa política que as arbitrariedades e as ações de lesa humanidade patrocinadas pelos governos de Temer e de Bolsonaro pudessem ser superadas e o país ingressasse um círculo virtuoso de desenvolvimento econômico e social.

Mas, também, pela demonstração de truculência dos apoiadores bolsonaristas que, diante dos resultados das urnas que lhes foram desfavoráveis, escancararam o desapreço que nutrem pelas prerrogativas constitucionais vigentes no país, lançaram mão de invasões às sedes dos três poderes, com o uso de métodos terroristas, com o intuito de criar um clima de discórdia e temor entre a população que favorecesse a intervenção das Forças Armadas e a decretação de um golpe de Estado no país.

As primeiras ações de Luiz Inácio Lula da Silva, no exercício do seu terceiro mandato à frente da presidência da república, têm sido assim marcadas por posicionamentos favoráveis às reformas sociais que proclamou em sua campanha eleitoral e o enfrentamento de enormes dificuldades, principalmente, no âmbito da articulação política no Congresso Nacional, que tem criado empecilhos para que as propostas possam ser colocadas em prática.

No que tange ao envolvimento da juventude com a política educacional no Brasil, neste momento, a discussão em torno do Novo Ensino Médio (Lei 13.415/17) é a que tem se mostrado mais acalorada, com a intensa movimentação das entidades estudantis realizando manifestações públicas e proclamando que "a revogação do Novo Ensino Médio é o passaporte para construção de uma nova escola e a reconstrução do país".

Para os representantes da maioria das uniões metropolitanas de estudantes secundaristas (UMES) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), tem sido importante dizer que não houve nenhuma preocupação das autoridades governamentais em estabelecer o diálogo com as entidades representativas dos estudantes, dos professores e demais trabalhadores da educação e da sociedade civil em geral, priorizando, os acertos por cima com o Instituto Ayrton Senna, com a Fundação Lemann, com a Fundação Itaú para Educação e Cultura, com o Todos pela Educação, entre outros organismos pautados na defesa dos interesses empresariais e mercantis na esfera educacional. 

Há de se reconhecer que a vitória de Lula em 2022 representa uma enorme esperança de que possam se operar significativas mudanças sociais no país, porém, mesmo que os obstáculos políticos, econômicos e financeiros que se oponham ao ideário reformista sejam superados, também, é preciso ter ciência de que continuamos aprisionados num momento da história em que as promessas da cidadania e de uma vida digna não foram alcançadas por amplas parcelas da população.

Com a educação dos jovens, entendida como um bem fundamental para o exercício da sua sociabilidade, do usufruto da cultura e plena formação humana e qualificação profissional, não temos uma exceção, pelo contrário, sua negação tem se constituído em uma mácula de longa duração na história brasileira. 

Imersos numa cotidianidade que faz apelo ao consumo e culto ao mercado, em sua grande maioria, os jovens contemporâneos experimentam a falta de oportunidades, a indiferença, a intolerância e o medo de não encontrarem o seu lugar no mundo. Por sua vez e de maneira alvissareira, os jovens se organizam e impulsionam movimentos políticos e sociais, constituem entidades que dinamizam e fortalecem a sociedade civil e proclamam transformar a vida, produzindo uma historicidade do tempo presente, avessa aos estereótipos e visões deterministas do seu papel social. 

Em contraposição a uma sociedade que enaltece o individualismo, os jovens, com criatividade e de forma coletiva produzem diferentes formas de atuação e de exercício da resistência, vinculam-se as causas ambientais, constroem casas em mutirões, participam de ações comunitárias, organizam apresentações teatrais, saraus poéticos e festivais de música, construindo sua identidade política embasados num sentimento de solidariedade e de pertencimento social.  Mas as coisas não são nada fáceis, pois ainda estamos muito longe de garantir uma educação integral aos jovens brasileiros, com garantias de renda que os impeça de se proletarizarem e abandonarem os estudos diante da insensibilidade e da negligência governamental.

Dossiê

No presente número da revista Cadernos de pós-graduação oferecemos à comunidade acadêmica da Área da Educação, o segundo volume do dossiê “Juventude e ações políticas” que contou com a colaboração dos professores Maurício Perondi e Leandro Pinheiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) em sua organização, constituído das seguintes contribuições.

No artigo Democratização psicossocial: aprendizado e desenvolvimento em ocupações escolares paulistas, ao abordar, a partir de perspectivas histórico-culturais e freirianas, processos de aprendizado e desenvolvimento ocorridos durante ocupações estudantis paulistas nos anos de 2015 e 2016, Leandro Amorim Rosa e Salvador Antonio Mireles Sandoval observam que as mesmas foram marcadas por processos de autogestão. Por intermédio das entrevistas, dos grupos focais e observações dos estudantes, demonstraram, segundo afirma o artigo, que os estudantes envolvidos desenvolverem relações e subjetividades mais conscientes, ativas e potentes.

Escrevendo sobre as Perspectivas marxistas para uma análise dos movimentos sociais: um breve estudo bibliográfico, Isadora Cabreira da Silva adota duas premissas investigativas: 1) Possibilidades para a análise dos movimentos sociais a partir da perspectiva marxista e 2) Relações entre o marxismo e os movimentos sociais. A pesquisa que desenvolve é bibliográfica, centrada nas obras de Marx e orientada pelas considerações de Dallari acerca da importância da participação política no cotidiano da vida social.

Em Violência e as produções de “verdades”: (des) encontros discursivos entre as mídias hegemônicas e juventudes do loteamento Kephas/RS as autoras Tatiane de Oliveira, Dinorá Tereza Zucchetti e Pâmela Marconatto Marques, com base em Foucault, discutem a produção de um estigma violento acerca da vida no loteamento. Em contrapartida, as narrativas de nove jovens moradores apontam que tem assistido, ao longo dos anos, a diminuição da violência no território. Anunciam, então, que outras narrativas podem ser construídas sobre o Kephas.

Vanessa Rodrigues Porciúncula, autora de Redes, resistências e as lutas pela educação: uma experiência de diálogo no PPGEDU-UFRGS discute sobre a participação da juventude nos movimentos estudantis: o caráter educativo dos movimentos e a formação de uma coletividade juvenil. Parte, neste sentido, da sistematização das reflexões do Seminário Juventudes e Ação Política: individuações, reflexividades e redes de mobilizações.

No artigo Estratégias encontradas pelos jovens de periferia para enfrentar os desafios causados pela pandemia, sua articulista, Gabrieli Oliveira da Silva, refletiu sobre as vivências de jovens que frequentam o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo em São Leopoldo (RS) no ano de 2020. Aponta que o SCFV, seguindo seupropósito, foi um espaço de convivência, cidadania, desenvolvimento do protagonismo e da autonomia do público atendido.

Investigando, por procedimentos documentais e bibliográficos, se o movimento secundarista de ocupações das escolas públicas de Educação Básica ocorrido nos anos de 2015 e 2016 pode impulsionar a ocupação e a luta pela sobrevivência da escola pública, as autoras deEducação política: o protagonismo dos estudantes secundaristas,Caroline Ferreira do Amaral e Sônia Aparecida Siquelli, afirmam que a ação política emergiu do interior do próprio movimento, em prol dos interesses do coletivo de jovens, além de promover uma educação de consciência política da importância da instituição escolar.

Mulheres poetas, que expõem, trabalham sua dor e a usam como material para produzir poesia nas competições de poetryslamé o objeto de estudo do artigo Retalhando o que nos fere discurso de resistência das mulheres no Poetry Slam. O autor desse manuscrito, Natã Neves do Nascimento, vê nessas mulheres e em suas poesias a declaração de que elas estão vivas, conscientes, que a dor não as calou ou extinguiu, que elas querem ser ouvidas e que suas poesias sejam usadas como material de discussão da dor e do sofrimento feminino.

Com autoria de Cristina Miyuki Hashizume e Andrea Guerra Pedros, a discussão do textoProfessores e formação de jovens em cumprimento de medida socioeducativa: alfabetização, projeto de vida e protagonismo jovem se dá acerca da constituição identitária, do protagonismo, dos conflitos e do contexto social e institucional de jovens alunos em internação. Trabalhando com os relatos dos professores acerca a alfabetização dos alunos e com as falas dos alunos que discutem seus projetos de vida, a argumentação do artigo é construída.

Artigos

Na consolidação deste volume da Revista Cadernos de Pós-graduação inserimos os seguintes artigos que foram submetidos à avaliação do periódico de forma espontânea pelos seus autores.

Refletindo acerca de uma aula experimental de Química, em que houve o planejamento em conjunto (entre o professor regente e o intérprete), os autores concluíram que atividades experimentais objetivando a formação de conceitos se constituem como modo de favorecera compreensão de conceitos científicos por parte dos alunos surdos, indicando que esta prática pode reverter o quadro de dificuldade de aprendizagem apresentada pelos alunos surdos na disciplina. Esta é a discussão do artigo Possibilidade de inclusão de alunos surdos por meio de uma situação de ensino-aprendizagem da disciplina Química, de autoria de Fernando Barcellos Razuck e Renata Cardoso de Sá Ribeiro Razuck, cuja base teórica para discutir deficiência está em Vigostky.

Em A socialização da educação em Stephen Duggan e Antonio Gramsci – as “sombras fabricadas” em meio às tensões do Estado moderno entre os séculos XIX e XX discute-se as perspectivas da “socialização” no espaço educacional levantadas por Duggan, cotejando-as com paradigmas científicos do pensamento de Antonio Gramsci. A obra de Duggan é indicada pelo articulista Marcos Antônio Macedo das Chagas como profícua para a discussão das tensões educacionais atuais.

No contexto de discussão de uma alternativa à mercantilização da educação superior, o artigo de Wagner Pires da Silva e Neiva Afonso Oliveira, Expansão e mercantilização da Educação Superior, procura apresentar argumentos a favor da construção de uma práxis libertadora na universidade, partindo das contribuições pedagógicas de Paulo Freire. A discussão se justifica no cenário de expansão desse nível de ensino, que tem se apresentado, no mercado educacional, como um nicho lucrativo de negócios.

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Biografía del autor/a

Carlos Bauer, Universidade Nove de Julho, Uninove

Professor Títular do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Grduação em Educação (PPGE), da Universidade Nove de Julho (Uninove)

Elaine Dal Mas Dias, Universidade Nove de Julho, Uninove

Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano

Patrícia Aparecida Bioto, Pedagoga. Doutora em História da Educação pela PUC-SP. Professora do Mestrado Profissional em Gestão e Práticas Educacionais Universidade Nove de Julho (Uninove)

Universidade Nove de Julho, Uninove

Maurício Perondi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS

Doutorado em Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU)

Leandro Rogério Pinheiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS

Doutorado em Educação

Publicado

2023-06-29

Cómo citar

BAUER, Carlos; DIAS, Elaine Dal Mas; BIOTO, Patrícia Aparecida; PERONDI, Maurício; PINHEIRO, Leandro Rogério. Inquietudes, mobilizações sociais e desafios permanentes. Cadernos de Pós-graduação, [S. l.], v. 22, n. 1, p. 1–5, 2023. DOI: 10.5585/cpg.v22n1.24664. Disponível em: https://uninove.emnuvens.com.br/cadernosdepos/article/view/24664. Acesso em: 20 sep. 2024.

Número

Sección

Editorial