Tonello, Denise. Portfólio
Pra que te quero? 2. ed. São Carlos: Pedro & João, 2022
DOI:
https://doi.org/10.5585/cpg.v22n2.24685Resumo
Denise Tonello é educadora, palestrante, idealizadora e coordenadora do centro de formação “Saber mais e mais”. Com uma vasta experiência na docência, coordenação e assessorias pedagógicas, a professora, mestra em educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), tem se dedicado aos estudos e pesquisas com temas relacionados à avaliação formativa, documentação pedagógica e à divulgação de novas perspectivas educacionais com base em documentos oficiais e conceituados pesquisadores.
Ao longo da sua carreira, Denise já ministrou formações para empresas e instituições de ensino; colabora com publicações de materiais para editoras, revistas e institutos educacionais. Tem se destacado, por sua autoria do livro Portfólio: pra que te quero?, lançado, em 2022, pela Pedro e João Editores em parceria com a Casa Diálogos.
No livro, Portfólio: pra que te quero? Denise Tonello busca auxiliar estudantes e profissionais a compreender o portfólio e suas implicações. Com uma linguagem acessível, a autora descreve conceitos de avaliação formativa, metacognição e documentação pedagógica para a construção de portfólios, que visam ratificar prática pedagógica e o desenvolvimento da aprendizagem.
É importante ressaltar que a obra é fruto de extensas pesquisas e estudos sobre um tema que sempre despertou interesse da autora. A partir de sua inquietação sobre como evidenciar a trajetória do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos que, muitas vezes, não é claramente perceptível nos relatórios descritivos individuais, Tonello iniciou seus estudos em colaboração com um grupo de professores da escola onde atuava como coordenadora. Com o intuito de criar respostas para sua inquietação, deu continuidade às pesquisas, uma das quais se tornou seu projeto de mestrado e, subsequentemente, consolidou-se como tema central de seu primeiro livro publicado.
A obra é composta por cem páginas aproximadamente, dividida em dez capítulos, permitindo ao leitor uma leitura agradável, desenvolvendo uma progressão gradual, com base na concepção de que, antes mesmo de se falar sobre portfólio, é necessário refletir sobre os conceitos, concepções e propósitos da avaliação.
O primeiro aspecto que a autora apresenta é o estudo etimológico da palavra “portfólio” e sua ação nos ambientes escolares na década de 80 do século passado.
Fazendo relação com os princípios educacionais avaliativos, os portfólios passaram por uma ressignificação de paradigma, que a autora retrata ao longo da obra. Defendendo que o portfólio tem uma extrema importância na avaliação da aprendizagem, os primeiros capítulos são reservados para o ato de avaliar, desenvolvendo reflexões acerca das concepções e do protagonismo infantil, alinhado à perspectiva formativa.
Dessa forma, Tonello busca explicar a necessidade de se compreender a avaliação com base nos princípios formativos e processuais, destacando que a avaliação ocorre, constantemente no cotidiano escolar, com o intuito de investigar a trajetória do desenvolvimento do estudante, reconhecendo e dando visibilidade a suas habilidades, conhecimentos e desafios. Nesse sentido, é essencial refletir sobre o papel do professor na construção do desenvolvimento e da aprendizagem da criança, replanejando estratégias pedagógicas que possam auxiliar nesse processo. Para enfatizar os princípios formativos da avaliação, Tonello destaca:
Espera-se que os resultados ou constatações não estejam a serviço da classificação ou do julgamento, ou da enumeração de falhas e insuficiências, mas, sim, do aprimoramento, do replanejamento do processo e dos percursos. Espera-se, enfim, que a avaliação esteja a serviço de uma investigação sistemática acerca do que o educando aprendeu, do que falta aprender, ou do porquê não aprendeu, permitindo a emissão de ponderações e colaborando com a tomada de decisões assertivas em prol da a aprendizagem (2022, p. 21 -22).
Ademais, apresenta uma breve linha do tempo sobre avaliar, citando suas atribuições e a importância temporal de cada período apresentado.
Expondo, com mais detalhes o movimento da Escola Nova, do início do século XX, que sugere uma metodologia mais dinâmica, propõe avanços no processo educacional e no envolvimento da participação do educando.
Um dos pontos fortes do livro é a praticidade que a autora relaciona à avaliação formativa, defendida em diversas discussões teóricas de grandes pesquisadores de referência com os documentos oficiais, que define um conjunto de aprendizagens essenciais que se espera do aluno ao longo da sua escolaridade. Dessa forma, torna inviável avaliar a criança a partir somente de um referencial: se atingiu, ou não, tais objetivos, necessitando ressignificar o processo avaliativo no cotidiano escolar. Tais conhecimentos referentes à avaliação formativa passam a refletir o que avaliar e como avaliar, garantindo um olhar reflexivo não somente sobre os processos quantitativos da criança, mas, sim, em considerar a avaliação como processo, a fim de construir novos paradigmas, tais como: valorizar a criança em seu desenvolvimento integral, promover interação entre o professor e o estudante, refletir sobre as práticas ou ações pedagógicas, entre outras. Diante desse cenário, Tonella, aponta ser necessário compreender que:
Refletir sobre o que avaliar demanda conhecimento e domínio acerca das fases do desenvolvimento de crianças e jovens e dos objetivos de aprendizagem para a faixa etária. É imprescindível compreender (e incorporar) a avaliação como um processo que abarca momentos de diferentes intencionalidades (diagnóstica, formativa e somativa), mas que, ao invés de apenas medir ou julgar, preocupa-se em desenvolver ações concretas que auxiliem no aprender, no fazer e no formar melhor (2022, p. 33).
Em meio às explicações e correntes teóricas, a autora indaga sobre a importância de a criança ser protagonista no processo avaliativo, vivenciando situações que lhe permitem refletir, atuar, planejar, repensar, exercer e exercitar, compreendendo sua própria aprendizagem.
Para dar abertura ao tema central, portfólio, a autora destina o capítulo “Documentação pedagógica: possibilidade formativa para educadores e educandos”, no qual retrata a documentação pedagógica e a sua importância no processo avaliativo e informativo do educando. Resumidamente, detalha sobre os diferentes aspectos que caracterizam a documentação pedagógica, tais como: o processo reflexivo, a dimensão comunicativa, o instrumento de pesquisa ação docente, a prática social e instrumento de análise. Em complemento, esta explicação mostra, de maneira simbólica, que não basta selecionar uma coletânea de atividades ou documentos; é preciso que a seleção seja embasada em fundamentos concretos, como suporte para mediação e reflexão.
Como já mencionado, o livro foi organizado de forma cuidadosa, iniciando-se com explicações acerca do ato de avaliar, seus conceitos e o protagonismo infantil, em conjunção com a documentação pedagógica. Só então, em meados do livro, a autora destina os capítulos subsequentes para retratar o tema central do livro, portfólio.
A obra apresenta um destaque significativo, com diversas citações e bibliografias referenciais sobre o tema, discorrendo sobre conceitos, uso e formas de explicação sobre portfólio. A autora reuniu-se, brilhantemente, com mais de quinze pesquisadores, cujos conceitos, apresentados durante a leitura, evidenciam que cada um filia-se a uma linha de pensamento, mas todos compreendem o portfólio como uma ferramenta que propicia a visibilidade da trajetória do desenvolvimento infantil, proporcionando compreensão sobre a aprendizagem tanto por parte do educador, como do educando e da família.
Na sequência, a autora apresenta e diferencia os modelos de portfólio, traçando caminhos para a construção de um portfólio que dialoga com o desenvolvimento infantil junto a uma avaliação formativa. Oferece “dicas” sobre sua organização e elaboração, ressaltando a importância de o professor ter ciência dos objetivos e focos que representam a trajetória do desenvolvimento:
É preciso, portanto, planejar a documentação, selecionando um foco que oriente o que se quer documentar, por que se quer documentar, e para quem se documenta, pois não é possível nem produtivo documentar tudo. Documentar implica a coleta de registros, a seleção desses materiais, e sua reelaboração, de modo a construir o fio condutor da experiência narrada e, desse modo, a reflexão sobre ela. (MARQUES; ALMEIDA, 2011, p. 417, apud TONELLO, 2022, p. 69, grifos dos autores da resenha).
Ressalta ainda, a importância da participação do estudante na confecção do portfólio, uma vez que a metacognição é um dos objetivos primordiais, bem como da necessidade de se construir o portfólio ao longo do período letivo, não se limitando apenas ao final de cada percurso escolar.
De acordo com o ponto de vista da autora, a prática do portfólio, com base nas referências bibliográficas citadas ao longo da obra, não é possível ser desenvolvida em turmas de berçário, uma vez que um de seus princípios básicos tem a criança como coparticipante da sua própria avaliação, e que, devido à idade, não é possível de ser realizada. Isso não significa que, para essa idade, não podem ser realizados outros tipos de documentações pedagógicas, tão ricas quanto o modelo de portfólio apresentado.
Caminhando para o fim do livro, a autora apresenta relatos e imagens de portfólios como modelos reais, oferecendo sugestões simples e possíveis de como se pode envolver as crianças maiores como coparticipantes desse processo.
Tonello destina o último capítulo a uma síntese sobre como incorporar, na prática, o portfólio educacional, fundamentado em sua pesquisa e nas teorias apresentadas. Enfim, encerra a obra relacionando a temática com uma citação que se refere a Paulo Freire:
Talvez, portfólios sejam a maneira inventada para corresponder às expectativas de Paulo Freire[1] quando, em seu livro, Pedagogia da autonomia, escreveu que "o ideal é que, cedo ou tarde, se invente uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação. É que o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não o trabalho do professor consigo mesmo" (2022, p. 100).
Na primeira leitura do livro, pode causar incômodo a ideia de que não é possível criar um portfólio de aprendizagem para bebês, uma vez que isso não corresponde à realidade encontrada em muitas unidades escolares. No entanto, após uma leitura mais atenta e com maior entendimento sobre as bibliografias apresentadas, lives de sua autoria e conversas com a própria autora, é possível compreender melhor, enxergando sua perspectiva. A questão é que, em nenhum momento, ela relata que não existe tal documentação nos berçários; pelo contrário, insiste nessas documentações, mas, com outras formas de registro, que, segundo suas expectativas, não podem ser considerados portfólio, pelo fato de a criança não ter idade suficiente para ser protagonista, a ponto de a própria criança refletir sobre o seu processo de aprendizagem, identificando seus avanços e sucessos relacionados às habilidades, comportamentos ou conhecimentos.
Em suma, o livro traz uma abordagem clara sobre avaliação formativa e portfólio de aprendizagem. Os capítulos utilizam abordagens simples, facilitando o envolvimento com as questões centrais apresentadas na obra, mesmo para principiantes. Ademais, o livro apresenta uma vasta bibliografia, permitindo que o leitor se aprofunde ao tema, caso tenha interesse.
O livro Portfólio: pra que te quero? traz mais informações que o nome propõe. Pode-se dizer que é um guia prático sobre avaliação formativa e sobre a construção do portfólio. Neste sentido, sua leitura deve ser indicada para todos professores e interessados nos aspectos pedagógicos, independentemente de serem adeptos ou não a construção do portfólio de aprendizagem, pois como já foi referido, ele apresenta inúmeras informações a serviço da avaliação formativa.
[1]FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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